Pesquisadores da Irlanda desenvolveram um composto antimicrobiano inspirado na defesa natural do corpo humano que conseguiu matar rapidamente as cada vez mais preocupantes bactérias resistentes aos medicamentos, ou superbactérias.
A abordagem consiste em complexos de iodo-tiocianato, cuja composição foi inspirada em enzimas e moléculas reativas produzidas pelo nosso próprio sistema imunológico, as enzimas peroxidase, que desempenham um papel na defesa imunológica contra infecções bacterianas.
As peroxidases podem produzir moléculas oxidadas altamente reativas na presença de peróxido de hidrogênio. Presentes naturalmente nas secreções corporais, tais como saliva, leite e lágrimas, essas substâncias altamente reativas podem causar danos às células bacterianas, resultando na sua morte.
No entanto, enzimas são caras e praticamente impossíveis de serem produzidas nas quantidades necessárias para um tratamento antibacteriano amplamente utilizável. Assim, os pesquisadores desenvolveram uma abordagem sem o uso de enzimas, consistindo de peróxido de hidrogênio e duas substâncias oxidáveis – iodeto e tiocinato. Estes complexos de iodo-tiocianato produzem substâncias antimicrobianas altamente reativas sem uma enzima peroxidase.
Desinfetante antibacteriano
A equipe testou a capacidade da sua substância bioinspirada para matar uma variedade de estirpes bacterianas, tendo sucesso inclusive contra a MRSA (Staphylococcus aureus resistente à meticilina).
O composto causou a morte bacteriana rápida em todas as estirpes testadas, em alguns casos matando as bactérias dentro de 30 segundos, mesmo em pequenas doses.
O composto pode ser aplicado como um desinfetante, mas também existe a possibilidade de seu uso para tratar diretamente ferimentos infectados, embora sejam necessários testes mais amplos para isso.
“Nós precisaremos avaliar a segurança e a adequação dos complexos para uso interno ou externo em seres humanos. Também precisamos desenvolver sistemas de distribuição para implementar o tratamento em uma variedade de ambientes que são atualmente afetados por bactérias resistentes a antibióticos,” disse o coordenador da equipe, professor Vincent O’Flaherty, da Universidade Nacional da Irlanda em Galway.
Superbactérias e biofilmes
“O surgimento das ‘superbactérias’ deixa a comunidade clínica com um número cada vez menor de opções para tratar doenças infecciosas e para prevenir a propagação de bactérias resistentes em, por exemplo, ambientes hospitalares,” comentou O’Flaherty.
Além das infecções hospitalares que afetam os pacientes, a contaminação bacteriana pode ocorrer em dispositivos médicos, como cateteres. As bactérias tendem a se agregar nesses implantes e formar camadas viscosas chamadas biofilmes, que são particularmente resistentes às estratégias de descontaminação.
Fonte: Diário da Saúde